Quer os ingredientes perfeitos para uma excelente história? Isso é fácil, toda grande história começa na taberna do Frodo. Depois de algumas canecas de cerveja, o problema sempre virá sem ser convidado! – Tibicus, Thais 2016.
Ah se naquela época Tibicus soubesse o quão certo ele estava…
A lua estava no auge de seu apogeu. Volumosa e brilhante, teria sido uma bênção para um viajante em qualquer outra noite. Contudo, esta noite foi sufocada por uma forte tempestade que se precipitou a partir de Roshamuul. E seu brilho agora só era evidente pelo estranho halo que delineava as nuvens pesadas e com seus trovões servia apenas como mau presságio a todos que ousassem se aventurar sob tais condições. Apenas aqueles cansados da própria vida se arriscariam a sair em meio a uma tempestade vinda de Roshamuul. Desiludidos, ou temerosos pela vida dos outros…
Um vento penetrante varria os arbustos e os campos, assobiava pelas rachaduras, vãos de casas e celeiros próximos. Pingos de chuva pesados e duros como pedras caiam intensamente do céu, enchendo valas e transbordando rios. Esta foi a mais voraz das tempestades, assolou com trovões e relâmpagos a terra sob ela, não poupando nada nem ninguém.
A distância, os uivos tridentes dos lobos selvagens desapareceram sob as batidas rítmicas dos cascos de um war horse que faziam o solo vibrar. Sobre ele, um cavaleiro com as roupas encharcadas cavalgava implacavelmente pela tempestade, como se nada o abalasse, com a água escorrendo por seu rosto pálido. Seus olhos eram vazios e sem esperança, estavam semicerrados devido ao impacto da chuva tentando fixar ao longe o destino que ele ainda não conseguia enxergar.
A água escorria de seu nariz largo e sobre seus lábios ásperos e trincados que haviam tomado uma tonalidade azul acinzentada. Fios grossos, longos e castanhos de seu cabelo estavam aderidos a sua testa, cobrindo uma ferida profunda e recente um pouco acima de sua têmpora. Os traços angulares de seu rosto estavam marcados pela preocupação. Sobre aquele nobre war horse não havia um guerreiro honrado, mas um homem espancado e curvado pelo peso da culpa.
Ele tinha deixado Thais há cerca de uma hora, quando a tempestade estava começando a ser anunciada, mas agora, parecia estar cavalgando há uma vida inteira. Inúmeras vezes ele olhava por cima do ombro apenas para se certificar de que não estava sendo seguido. Venore estava a poucas milhas de distancia. Capitão Bluebeard, aquele desprezível lobo do mar, o havia decepcionado ao se recusar a navegar sob aquelas condições. Muito perigoso, ele havia justificado.
Se ele tivesse conseguido zarpar de Thais, agora não precisaria fazer essa viagem forçada e perigosa pelo continente Tibiano. Sua melhor chance de chegar ao destino final seria com o capitão Fearless. E, ele estava esperançoso de que ele pudesse atender o seu pedido. No entanto, talvez desde o princípio esta fosse a melhor escolha. Em Venore as pessoas não o conheciam – então, menores as chances de se levantar questionamentos indesejados.
Ele estava pagando um preço bem alto pela perda do protetor de ombro, a corda de seu Warsinger Bow, preso as suas costas, estava cortando dolosamente seu ombro, entalhando cada vez mais sua pele a cada batida dos cascos no solo irregular. Mas não havia tempo para parar ou mesmo descansar. Uma cicatriz seria um leve sacrifício se comparado a dor e a agonia que enfrentaria se falhasse em sua missão.
Mas ele conseguiu ter sucesso? Se o bilhete que ele deixara para Tibicus não fosse descoberto, isso significaria que o cavaleiro tinha assinado sua própria sentença de morte. Tibicus encontraria o bilhete que ele havia deixado? Afinal, por que raios ele estava pensando em seu próprio destino? Não era a respeito dele, era relacionado a Tibicus, acima de tudo, sobre eles: todos aqueles inocentes que foram envolvidos nessa situação desesperadora por sua causa dele, por causa de sua estupidez, e agora, ele estava entre a cruz e a espada.
Ele tentava não afundar em pensamentos e se concentrava na missão que tinha pela frente. E, em um esforço para limpar sua mente, esporeou seu cavalo forçando-o a entrar por um caminho lamacento.
Então – desastre!
Um raio atingiu a árvore ao seu lado, lançando faíscas sobre ele, assustando o war horse que, em pânico, refugou, empinou e jogou-o de costas ao chão. O cavaleiro caiu sobre uma poça de lama. Ele sentiu a água gelada sob pele, que agora penetrava, lentamente, através das costuras abertas abaixo de seu peitoral amassado. Sua capa verde-oliva estava agora encharcada com a mesma sujeira marrom que manchava suas Dwarven Legs. Sua bela armadura, que outrora fora seu orgulho e alegria, estava agora suja e manchada, da mesma forma que sua honra.
Ele já não tinha forças para se levantar de onde havia caído. Toda a sua raiva e frustração foram canalizadas em um pensamento que ressoou através de sua mente:
“Esse é o lugar certo para você, seu projeto patético de paladino.”