Graças a uma série de grupos e de políticas reacionárias – entre as mais variadas formas de retrocesso – o debate sobre questões relacionadas a gênero em alguns países tem sido cada vez mais dificultado. Este é um assunto que perpassa não somente as relações sociais que se dão em nosso cotidiano, mas que deve também ser pensado a partir do contexto das relações que são gestadas no interior do universo tibiano. Neste artigo, pretendo discutir os principais mal-entendidos e equívocos em torno do debate sobre gênero, buscando estabelecer correlação direta com o Tibia.
Em primeiro lugar, desconsiderando-se a possibilidade da existência de neutralidade em qualquer campo de discussão, é de fundamental importância situar e compreender qual é a função do debate sobre as questões de gênero. Com o mínimo de aprofundamento teórico dentro desta temática, pode-se verificar que a discussão sobre gênero diz respeito acima de tudo a atributos e significados, que de modo geral, são socialmente atribuídos a homens e mulheres. Em outros termos, o debate sobre gênero refere-se a papeis que são socialmente prescritos – e desempenhados – por homens e mulheres.
De modo geral, o papel do masculino de sustentar a família e do feminino de ficar em casa cuidando do lar e dos filhos são exemplos lamentáveis de atributos ainda muito arraigados e presentes em nossa sociedade eminentemente paternalista e portanto machista. Comportamentos derivados desse padrão resultam muitas vezes em violência física e, em muitos casos, até em morte.
Em contexto tibiano, não é incomum que ao masculino sejam atribuídas funções consideradas “ofensivas e complexas” ao passo que ao feminino são normalmente atribuídas funções de “suporte aos destemidos e inteligentes guerreiros”. Quando decidem assumir uma “vocação ofensiva”, são geralmente questionadas (da mesma forma que nossa sociedade costuma questionar mulheres ao volante, por exemplo). Também não é incomum que as mulheres tibianas sejam perseguidas, insultadas, assediadas e desrespeitadas apenas pelo simples fato de serem mulheres. Questionar esses padrões/modelos/estereótipos significa discutir gênero.
Mas vale dizer que o debate sobre gênero é muito mais amplo: Questionar por exemplo a imposição da heterossexualidade também significa discutir gênero. Por isso grupos reacionários tentam, a qualquer custo, impedir qualquer discussão que envolva gênero. Normalmente, esses grupos lançam mão da categoria ideologia de gênero como forma de desqualificar toda reflexão, pesquisa e seriedade da produção acadêmica em torno do tema gênero (ideologia significa apreensão alienada da realidade). Na minha acepção, esse slogan – “ideologia de gênero” –, propagado principalmente no âmbito do senso comum, trata-se apenas de uma estratégia discursiva de poder, mas que acaba logrando efetividade preocupante entre os mais desavisados.
Nesse sentido, face ao que foi exposto, concluo o presente artigo afirmando que este assunto não se esgotará independentemente da nossa vontade. Nós tibianos que primamos pela construção de uma leitura menos engessada da realidade temos a obrigação de refletir e de lutar para que este importante tema tenha espaço nos mais variados contextos da vida social. É preciso questionar os padrões e estereótipos socialmente constituídos e hegemonizados e que são, lamentavelmente, transportados para dentro do Tibia – discursos que contribuem tão somente para a manutenção das mais variadas formas de preconceito, discriminação e intolerância. Tibianos, vamos falar sobre gênero!